Califa diz que chegou o momento de deixar de culpabilizar apenas os muçulmanos pelos problemas do mundo
20 DE MARÇO DE 2018 – COMUNICADO DE IMPRENSA
CHEFE SUPREMO E CALIFA DA COMUNIDADE ISLÂMICA AHMADIA DIZ QUE CHEGOU O MOMENTO DE DEIXAR DE CULPABILIZAR APENAS OS MUÇULMANOS PELOS PROBLEMAS DO MUNDO
▪ Hadrat Mirza Masroor Ahmad diz que a desigualdade, a pobreza extrema, o comércio internacional de armas e as políticas externas injustas são as forças motrizes da radicalização
▪ Califa diz que o aumento da extrema-direita “evoca memórias dos dias negros do passado”
▪ Sua Santidade prova que o Islão rejeita todas as formas de extremismo e que os conflitos de hoje são “geopolíticos” e não estão ligados à religião
▪ Líder Muçulmano diz que as potências mundiais estão cegas pela visão curta e limitada
No dia 17 de março de 2017, o Chefe Supremo e o Quinto Califa da Comunidade Islâmica Ahmadia Internacional, Sua Santidade, Hadrat Mirza Masroor Ahmad, proferiu o discurso principal no 15º Simpósio Nacional da Paz, organizado pela Comunidade Islâmica Ahmadia do Reino Unido.
O evento realizou-se na Mesquita Baitul Futuh, em Londres, com uma audiência superior a 900 pessoas, oriundas de 31 países, incluindo mais de 570 convidados não-Ahmadianos, entre os quais Ministros, Embaixadores, Deputados e vários outros dignitários e convidados.
Durante o evento, Sua Santidade conferiu à Sra. Angelina Alekseeva, representante de Dr. Leonid Roshal, um renomado pediatra russo e Presidente do Fundo de Caridade Internacional para Ajudar Crianças em Desastres e Guerras, Prémio da Comunidade Islâmica Ahmadia para a Promoção da Paz, em reconhecimento dos seus excelentes serviços médicos e humanitários.
Durante o seu discurso, Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse que a Comunidade Islâmica Ahmadia nunca desistiria dos seus esforços para espalhar a paz no mundo. Ele exortou os líderes mundiais e os governos a “mudarem as suas prioridades” e a ajudarem a aliviar o sofrimento das pessoas nos países em desenvolvimento.
Sua Santidade condenou veementemente o comércio internacional de armas e disse que os países que estão produzindo armas para ser usadas em países devastados pela guerra têm “sangue nas mãos”. Ele também disse que as crianças nascidas em pobreza extrema ou em áreas de conflito são alvos fáceis e vulneráveis de recrutadores terroristas. Sua Santidade falou dos perigos do extremismo entre os muçulmanos e da crescente ameaça dos nacionalistas de extrema-direita. Sua Santidade também rejeitou as alegações de que os ensinamentos islâmicos promovem qualquer forma de terrorismo ou extremismo.
Falando sobre os esforços constantes da Comunidade Islâmica Ahmadia para espalhar a paz e promover o respeito mútuo e a tolerância, Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“A nossa fé exige que tentemos exortar as pessoas, em todas as partes do mundo, sejam ricas ou pobres, sejam poderosas ou oprimidas, religiosas ou irreligiosas, para a paz e a justiça.”
Falando sobre prioridades globais, Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Nos últimos tempos, uma das questões que muitos políticos e intelectuais têm debatido e têm feito campanha, é a mudança climática e, especificamente, a redução das emissões de carbono. Certamente esforçar-se para proteger o meio ambiente e cuidar do nosso planeta é uma causa extremamente preciosa e nobre. No entanto, ao mesmo tempo, o mundo desenvolvido, e especialmente os líderes mundiais, também devem perceber que existem outras questões que devem ser abordadas com a mesma urgência.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad continuou:
“As pessoas que vivem nos países mais pobres do mundo não se preocupam com o meio ambiente, nem com os números mais recentes sobre as emissões de carbono; Em vez disso, eles acordam a cada dia pensando se irão conseguir alimentar os seus filhos.”
Destacando as consequências a longo prazo da pobreza, Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Não devemos considerar tais dificuldades como problemas de outras pessoas. Em vez disso, devemos perceber que o resultado dessa pobreza tem graves implicações para o mundo em geral e pode afetar diretamente a paz e a segurança do mundo. O facto de as crianças não terem nenhuma opção senão passarem os seus dias buscando água para as suas famílias, significa que elas não conseguem ir à escola ou obter qualquer forma de educação. Estão presas num ciclo vicioso de analfabetismo e pobreza que é aparentemente interminável e extremamente prejudicial à sociedade.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad continuou:
“As frustrações estão a ser rapinadas por extremistas, que seduzem os empobrecidos com recompensa financeira e prometem uma vida melhor para as suas famílias. Da mesma forma, tomar como alvo os jovens analfabetos significa que os extremistas têm toda a liberdade para radicalizá-los e lavar o seu cérebro.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad acrescentou dizendo:
“Os países pobres não devem ser desprezados, devemos considerá-los como parte da nossa família – nossos irmãos e nossas irmãs. Ao ajudar os países em desenvolvimentos a manterem-se de pé e ao dar oportunidades e esperança aos seus povos, estaremos a ajudar-nos a nós próprios e salvaguardar o futuro do mundo.”
Referindo-se à ascensão do nacionalismo e à ameaça da extrema-direita no mundo ocidental, Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Na sequência dos recentes ataques terroristas e do aumento da imigração para o Ocidente, também houve um aumento perigoso no nacionalismo em muitos países ocidentais que evocou o temor dos dias negros do passado. É particularmente inquietante que os grupos de extrema-direita se tenham tornado cada vez mais ativos e tenham assistido uma forte ascensão dos seus membros e até tenham obtido ganhos políticos. Eles também são extremistas, que pretendem envenenar a sociedade ocidental, incitando a maioria contra aqueles que têm uma cor diferente da pele ou contra aqueles que têm crenças diferentes.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad continuou:
“Além disso, a retórica de certos poderosos líderes do mundo tornou-se cada vez mais nacionalista e beligerante, já que se comprometeram a colocar os direitos dos seus próprios cidadãos acima de todos os outros. Não disputo o facto de que, é da responsabilidade dos governos e líderes cuidarem do seu próprio povo e protegerem os seus interesses. Certamente, desde que os líderes ajam com justiça e não infrinjam os direitos dos outros, as tentativas de melhorar a vida dos seus cidadãos são uma grande virtude. No entanto, políticas baseadas no egoísmo, ganância e prontidão para usurpar os direitos dos outros são erradas e são meios de semear discórdia e divisão no mundo.”
Sua Santidade falou da hipocrisia enraizada no comércio internacional de armas e do perigo que essa política representa para o mundo. A fim de impulsionar as suas economias nacionais, as potências mundiais estão a vender as armas “desumanas” que estão a destruir aldeias e cidades e a roubar injustamente o futuro de milhões de pessoas.
Ele disse que em países como a Síria, os soldados do governo, os rebeldes e os terroristas estão a lutar entre si, mas apesar dos seus interesses divergentes, todos têm uma coisa em comum – que a grande maioria das suas armas foi produzida externamente no mundo desenvolvido.
Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“De forma muito aberta e orgulhosa, as grandes potências estão a fazer comércio das armas que estão a ser usadas para matar, mutilar e brutalizar as pessoas inocentes. Lamentavelmente, esses países estão centrados apenas para aumentar a sua economia e maximizar o capital dos seus países, sem pensar nas consequências. Eles tentam desesperadamente obter os maiores contratos possíveis para vender as armas destrutivas que, uma vez disparadas, não fazem distinção entre os inocentes e os culpados. Eles vendem orgulhosamente as armas que não fazem exceção para crianças, mulheres ou doentes. Eles vendem descaradamente as armas que engolfam e obliteram aldeias e cidades indiscriminadamente.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad continuou:
“Inúmeras crianças veem os seus pais a serem matados de maneira desumana e tudo o que elas podem fazer é perguntarem-se por que é que os seus pais foram tirados delas. Milhares de mulheres ficaram viúvas, sem esperança e vulneráveis. Qual é o bem que pode brotar desta devastação? Tudo o que vejo é uma geração de crianças que está a ser empurrada para os braços daqueles que pretendem destruir a paz do mundo.”
Sua Santidade disse que dezenas de crianças e adolescentes em países afetados por conflitos estão a ficar órfãos devido aos ataques aéreos. Esses jovens estão a ser obrigados a reagir e estão a ser empurrados para o extremismo.
Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Em vez de estar na escola e ter uma educação, para se tornarem cidadãos honestos e cumpridores da lei, a única educação que uma geração inteira de crianças está a receber é como dominar granadas ou lança-foguetes, como fazer ataques suicidas e como causar estragos no mundo.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad acrescentou dizendo:
“No início, mencionei que o foco principal da comunidade internacional é a mudança climática e o desejo de manter o ar que respiramos limpo. Há alguém que pense que o intenso bombardeamento não tem efeito sobre a atmosfera? Além disso, se a paz prevalecer nos países devastados pela guerra, as suas cidades terão de ser reconstruídas a partir do zero, e isso por si só será uma indústria enorme que causará um aumento das emissões nocivas e da poluição. Assim, por um lado, estamos a tentar salvar o planeta, por outro lado, estamos a destruí-lo de modo insensato. Tendo em conta esses aspetos, acredito firmemente que as potências mundiais estão a ser cegadas pela visão curta e limitada.”
Sua Santidade também falou dos erros repetidos da política externa, cometidos por certos países ocidentais. Ele disse que a Guerra do Iraque foi exposta como sendo baseada em falsas acusações. Enquanto a intervenção na Líbia em 2011 provou ser um absoluto fracasso, que levou o país a tornar-se um “foco de extremismo”.
Sua Santidade também alertou sobre o risco de escalada de tensão entre os Estados Unidos da América e a Coreia do Norte. Embora o Presidente dos Estados Unidos da América tenha manifestado recentemente a sua disponibilidade de se encontrar com o líder da Coreia do Norte, Sua Santidade alertou que não há garantia de um acordo porque o ódio está “entrincheirado” em ambos os lados. Sua Santidade disse que, mesmo que surgisse um acordo entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, não haveria garantia de que isso seria mantido e, a esse respeito, mencionou o acordo nuclear do Irã realizado, há alguns anos, que ele disse está agora “pendurado por um fio”. Desta forma, ele exortou os líderes de todos os países e os seus representantes a agirem com cautela e a prosseguirem a diplomacia e a esforçarem-se para diminuir as tensões.
Exortando as pessoas a afastarem-se do materialismo crescente e a promoverem a igualdade e a justiça para todos, Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Se quisermos deixar para trás um legado de esperança para os nossos filhos e legar um mundo pacífico às nossas futuras gerações, então, independentemente de nossa religião ou crença, precisamos urgentemente de mudar as nossas prioridades. Em vez de serem consumidos pelo materialismo e pelo desejo de poder, todos os países, sejam eles ricos ou pobres, devem priorizar a paz e a segurança de todo o mundo acima de tudo. Em vez de embarcar numa corrida armamentista, que leva à morte e à destruição, devemos participar numa corrida que possa salvar e proteger a humanidade.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad continuou:
“Em vez de fechar as fronteiras e os portos em países afetados pela guerra, fazendo com que as crianças inocentes fiquem famintas e os doentes estejam privados de assistência médica, devemos abrir os nossos corações uns aos outros, derrubar os muros que nos dividem, alimentar os famintos e ajudar aqueles que estão a sofrer.”
Condenando todas as formas de extremismo que foram levadas a cabo em nome do Islão, Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Embora os supostos terroristas muçulmanos afirmem agir em nome do Islão, não acredito que estamos a assistir uma guerra religiosa. Pelo contrário, as guerras travadas e as atrocidades cometidas são apenas para ganhos geopolíticos. Os supostos terroristas jihadistas e os clérigos extremistas servem apenas para manchar o nome do Islão e minar os esforços da grande maioria dos muçulmanos que são cidadãos pacíficos e cumpridores da lei.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad continuou:
“Embora aceite que os atos malignos de alguns muçulmanos tenham prejudicado muito a sociedade, mas não aceito que apenas os muçulmanos sejam culpados pela instabilidade do mundo de hoje… Basta dizer que é a altura de o mundo se distanciar do conceito de que apenas os muçulmanos são culpados pelos problemas do mundo.”
Sua Santidade concluiu apresentando o exemplo do Fundador do Islão, o Sagrado Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele).
Sua Santidade descreveu a perseguição brutal enfrentada pelo Sagrado Profeta (que a paz esteja com ele) e pelos seus seguidores em Meca durante o período inicial do Islão.
Por exemplo, os muçulmanos foram martirizados, foram obrigados a deitarem-se nas brasas vivas e as mulheres muçulmanas tiveram seus corpos amarrados a camelos diferentes que se faziam correr em sentidos opostos.
Referindo-se ao exemplo do Profeta do Islão (que a paz esteja com ele), no que diz respeito ao regresso vitorioso a Meca, Hadrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Quando o Sagrado Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele) regressou vitoriosamente a Meca, ele não derramou nenhuma gota de sangue em vingança. Em vez disso, de acordo com a ordem de Deus Todo-Poderoso, ele anunciou que todos os seus torturadores e todos aqueles que se opunham violentamente ao Islão seriam instantaneamente perdoados. Ele declarou que sob o domínio islâmico, todas as pessoas estariam livres para praticar as suas próprias religiões e crenças, sem qualquer interferência ou sem qualquer medo. A sua única condição era que cada membro da sociedade permanecesse comprometido com a paz. Ele disse que todas as pessoas, independentemente de sua casta, credo ou cor, deveriam ter seus direitos protegidos e ser sempre tratados com respeito.”
Hadrat Mirza Masroor Ahmad continuou a dizer:
“Este foi um exemplo intemporal e magnífico do Profeta do Islão (que a paz esteja com ele) e é este espírito de compaixão, graça e misericórdia que os muçulmanos e não-muçulmanos precisam de adotar no mundo de hoje. É esse espírito de perdão e benevolência que todas as nações, grandes ou pequenas, ricas ou pobres, precisam de se desenvolver. Só então a paz duradoura pode ser alcançada.”
Antes do discurso principal, vários dignitários falaram sobre a importância de lutar pela paz e liberdade religiosa no mundo.
Rafiq Hayat, o Presidente Nacional da Comunidade Islâmica Ahmadia do Reino Unido, disse:
“O conceito de ‘nós versus eles’ semeia as divisões em vez da unidade. A nossa mensagem para todos aqueles que espalham o ódio é clara, o extremismo e o terrorismo não terão o sucesso e que, através de coesão e unidade, iremos derrotá-lo.”
O Dr. Aaron Rhodes, renomado ativista dos Direitos Humanos, Cofundador do Projeto de Direitos de Liberdade e Presidente do Fórum para a Liberdade Religiosa na Europa, falou sobre a perseguição enfrentada pela Comunidade Islâmica Ahmadia no Paquistão.
O Dr. Aaron Rhodes disse:
“Estou muito preocupado com a situação dos Ahmadis Muçulmanos no Paquistão e em outros países. A vossa comunidade está a ser punida pelas vossas conquistas morais e sociais. Vocês insistem na liberdade política para todos, mas a vocês foi negado o direito de votar e outros direitos dos cidadãos, a menos que abandonem os vossos valiosos e sagrados compromissos. Vocês defendem primado do direito, mas suportam assassinatos, tortura e discriminação, pois os criminosos gozam de impunidade e são incentivados e protegidos pelas autoridades governamentais. Vocês acreditam na liberdade religiosa, mas a vocês é negado o direito de professar a vossa fé e correm o risco de serem perseguidos se defenderem. Vocês são demonizados, ostracizados e marginalizados.”
O Dr. Luigi de Salvia, Vice-Presidente da Conferência Mundial das Religiões Europa pela Paz disse:
“Este simpósio que vocês organizam anualmente, há 15 anos, é uma das reuniões mais importantes do nosso continente. Dedica-se à reflexão de riscos e compromissos relacionados com o bem comum… Queria expressar toda a nossa solidariedade fraterna aos membros da Comunidade Islâmica Ahmadia, vítimas de perseguição, perpetrada por extremistas religiosos. Estaremos sempre ao vosso lado na defesa da liberdade de expressão religiosa.”
A Sra. Angelina Alekseeva, representante de Dr. Leonid Roshal, o vencedor do Prémio da Comunidade Islâmica Ahmadia para a Promoção da Paz, disse:
“É muito importante que cada um de nós envide todos os esforços para fortalecer a paz mundial à sua maneira… O Dr. Roshal tomou a decisão de entregar o seu prémio a um fundo de caridade que ajuda as crianças com graves consequências de traumas no cérebro e traumas na coluna.”
O evento terminou com a oração silenciosa dirigida por Sua Santidade. Tanto antes como depois do evento, Sua Santidade reuniu-se pessoalmente com vários dignitários e convidados e também realizou uma conferência de imprensa com os membros dos media.