Califa pede cessar-fogo em Gaza e na Ucrânia, diz que países privilegiados estão a exercer o seu veto “como um trunfo”
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COMUNICADO DE IMPRENSA – LONDRES, 12 DE MARÇO DE 2024
LÍDER MUNDIAL DA COMUNIDADE MUÇULMANA PEDE CESSAR-FOGO EM GAZA E NA UCRÂNIA, DIZ QUE PAÍSES PRIVILEGIADOS ESTÃO A EXERCER O SEU VETO “COMO UM TRUNFO”
“O destino das Nações Unidas parece espelhar o da sua antecessora falhada, a Liga das Nações”
“Onde há poder de veto, a balança da justiça nunca poderá ser equilibrada”
“Se ficarmos de braços cruzados e deixarmos que estas guerras se agravem ainda mais… a história julgar-nos-á com desprezo como autores da nossa própria destruição e miséria”
– Hazrat Mirza Masroor Ahmad
No dia 9 de março de 2024, o Chefe Supremo, o Quinto Califa da Comunidade Islâmica Ahmadia Internacional, Sua Santidade, Hazrat Mirza Masroor Ahmad, proferiu o discurso principal no 18º Simpósio Nacional da Paz organizado pela Comunidade Islâmica Ahmadia do Reino Unido.
O evento contou com a presença de mais de 1200 pessoas, incluindo mais de 550 dignitários e convidados provenientes de 30 países, incluindo Embaixadores de Estado, Deputados e académicos.
Durante o evento, Sua Santidade conferiu à Adi Patricia Roche, fundadora da Chernobyl Children International (CCI), Prémio da Comunidade Islâmica Ahmadia para a Promoção da Paz de 2020, em reconhecimento pelos seus esforços duradouros pós-desastre de Chernobyl.
Sua Santidade também conferiu a David Spurdle, fundador da instituição de caridade Stand By Me, Prémio da Comunidade Islâmica Ahmadia para a Promoção da Paz de 2023, pelo seu notável apoio aos órfãos e crianças desfavorecidas em todo o mundo.
Ao iniciar o seu discurso, Sua Santidade mencionou que, durante mais de duas décadas, tem apelado repetidamente aos decisores políticos que trabalhem pela “paz e harmonia no mundo”.
Destacando a importância de aprender lições da história, Hazrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“A história ensina-nos que os conflitos internos podem transformar-se em guerras regionais – muitas vezes alimentadas pela intervenção e influência de potências externas que fomentam a instabilidade e a divisão noutros países para servir os seus interesses. Nas últimas décadas, testemunhámos as consequências devastadoras dessa intervenção em países como o Kuwait, o Iraque, a Síria e o Sudão.”
Sua Santidade mencionou que ele já alertou sobre como as políticas injustas das grandes potências estão a “desencadear uma onda cada vez maior de desigualdade”, levando à insegurança global.
Sua Santidade afirmou que muitos intelectuais e decisores políticos tinham a impressão de que Sua Santidade estava errado ao acreditar que os conflitos existentes poderiam transformar-se numa guerra global e até desencadear o uso de armas nucleares, considerando isso “desnecessariamente pessimista.”
Comentando sobre aqueles que defendiam tais opiniões, Hazrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Talvez devido ao seu idealismo e ao desejo de olhar para o mundo através de lentes cor-de-rosa, ou então devido à incapacidade de aprender lições da história, eles aparentemente ignoraram as fissuras que se têm alargando nas últimas décadas nas relações internacionais. Talvez eles simplesmente não quisessem aceitar a realidade do que estava diante deles. Como se costuma dizer, ‘a ignorância é uma bênção’.”
Sua Santidade afirmou que embora muitas dessas pessoas estejam agora a fazer soar o alarme a alertar para uma guerra mundial, na qual as armas nucleares poderiam causar uma devastação inimaginável, “muitos ainda parecem não estar dispostos a considerar o que deve ser feito para acabar com estes conflitos e continuam reticentes em ouvir as vozes genuínas pela paz que existem no mundo.”
Dado que aqueles com poder de influência parecem não estar dispostos a trabalhar com sinceridade para uma paz duradoura, Sua Santidade disse que chegou a questionar se haveria algum motivo para se reunir novamente para o evento para falar da necessidade urgente de paz. No entanto, ele decidiu prosseguir “porque o Islão ensina os muçulmanos a nunca vacilar na busca pela paz”.
Sua Santidade disse que “falar com verdade e coragem perante os próprios líderes, especialmente aqueles que são de coração duro, injustos e cruéis” é na verdade a maior forma de ‘Jihad’, conforme declarado pelo Santo Profeta do Islão, Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah esteja sobre ele).
Voltando-se para o papel das Nações Unidas, à qual se referiu como um “órgão fraco e quase impotente”, Hazrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Em vez de decidir cada questão com base nos seus factos e méritos, os países formaram alianças e votam de acordo com os seus próprios interesses. Por fim, as decisões cruciais são tomadas por alguns estados privilegiados em cujas mãos está o poder de veto. Em vez de servirem fielmente a causa da paz e da justiça, usam o seu veto como um trunfo onde quer que os seus interesses estreitos sejam ameaçados, independentemente da sua decisão destruir a paz e a prosperidade de outros países e levar à morte e à destruição de inúmeras de pessoas inocentes.”
Hazrat Mirza Masroor Ahmad continuou e disse:
“Onde existe um poder de veto, a balança da justiça nunca poderá ser equilibrada… Infelizmente, devido à sua inerente falta de justiça, o destino das Nações Unidas parece espelhar o da sua antecessora falhada, a Liga das Nações. E, se o sistema de direito internacional, por mais fraco que seja, entrar em colapso completo, a anarquia e a destruição resultantes estão além da nossa compreensão.”
Durante o discurso, Sua Santidade explicou como os ensinamentos islâmicos em relação à guerra e à criação da paz são extremamente importantes hoje, numa altura em que estão a ser travadas várias guerras onde estes princípios não estão a ser respeitados.
Sua Santidade explicou que embora em circunstâncias extremas, os fundadores das principais religiões – incluindo o Santo Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos estejam sobre ele) – tivessem permitido o uso de força limitada, foi sempre “apenas com a intenção de acabar com a guerra e a opressão.”
Referindo-se aos ensinamentos do Sagrado Alcorão, Hazrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“No versículo 41 do capítulo 42, do Sagrado Alcorão, Allah, Todo-Poderoso, ordena que, onde uma pessoa ou nação foi vítima duma injustiça, ela nunca deve responder de forma desproporcional ou desviar-se para a busca de vingança. Além disso, Allah diz que é melhor perdoar se isso puder levar ao melhoramento. O versículo 10 do capítulo 49, do Sagrado Alcorão, diz que se duas nações estiverem em guerra, as partes neutras devem mediar entre elas e esforçar-se para estabelecer a paz baseada nos princípios de justiça e equidade.”
Hazrat Mirza Masroor Ahmad afirmou ainda:
“Se, após a reconciliação, uma das partes violar os termos do acordo e recorrer novamente à guerra, as outras nações devem unir-se à força contra o agressor até que esta desista da sua conduta agressiva. Assim que parar, as outras nações também devem deixar de usar a força. O objetivo deve ser sempre estabelecer uma paz sustentável baseada na justiça. Não deve um terceiro aproveitar da vulnerabilidade das partes em conflito, usurpando os seus direitos para o seu próprio benefício.”
Sua Santidade disse que se estes princípios fossem observados pelas Nações Unidas e outras organizações relevantes, “os conflitos seriam resolvidos de forma amigável e mais rapidamente.”
Referindo-se aos conflitos atuais, Sua Santidade disse que, tal como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o conflito entre Israel e a Palestina também é “geopolítico e territorial”, e não uma guerra religiosa.
Hazrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Acredito firmemente que só há uma forma de acabar com estas guerras – garantindo que a justiça prevaleça e que quaisquer acordos feitos sejam baseados na equidade, e não no que melhor serve os interesses das potências externas.”
Comentando mais uma vez sobre os perigos do poder de veto e o seu papel nos conflitos atuais, Hazrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“No caso da guerra na Ucrânia, a Rússia tem poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas e, por outro lado, a Ucrânia também tem este poder devido à sua aliança com os países ocidentais que são membros permanentes do Conselho de Segurança. Como pode ser alcançado um acordo se ambos os lados podem efetivamente usar o veto?”
Hazrat Mirza Masroor Ahmad afirmou ainda:
“Quanto ao que está a acontecer em Gaza, embora tanto os israelitas como os palestinianos tenham os seus apoiantes, o poder de veto só foi usado a favor de Israel desde que a atual guerra começou há vários meses. Por exemplo, em fevereiro, 13 dos 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas votaram a favor de um cessar-fogo imediato em Gaza, mas os Estados Unidos da América usaram o seu poder de veto e a Resolução foi derrotada. Como pode ser estabelecida a paz quando a opinião da maioria é tão facilmente descartada? Isso não é justiça – pelo contrário, é uma rejeição da democracia e do princípio da igualdade.”
Destacando os ensinamentos islâmicos, Sua Santidade referiu-se ao versículo 9 do capítulo 5 do Sagrado Alcorão, que afirma que a inimizade de qualquer nação ou povo nunca deve incitar alguém a desviar-se do caminho da justiça ou da equidade.
Hazrat Mirza Masroor Ahmad declarou:
“Mesmo as pessoas não religiosas certamente reconhecerão a sabedoria e os benefícios de adotar este elevado padrão de justiça.”
Depois disso, Sua Santidade abordou a acusação de que o Islão é uma religião extremista e destacou que mesmo quando o Islão permite a guerra defensiva, estabelece condições estritas que devem ser respeitadas.
Entre as condições estabelecidas pelo Santo Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos estejam sobre ele), Sua Santidade apresentou as condições de que as guerras nunca devem ser travadas para “conquistar terras ou para estabelecer a supremacia sobre outros. Pelo contrário, os muçulmanos só tinham permissão para lutar se a guerra fosse travada contra eles.”
Hazrat Mirza Masroor Ahmad falou sobre a proteção da santidade de todos os lugares de culto e disse:
“O Islão também ensina que, a menos que o oponente utilize um local de culto como base militar, não é permitido violar a santidade de um lugar de culto lutando dentro ou mesmo perto dele. É estritamente proibido derrubar ou profanar os lugares de culto dos oponentes.”
Explicando ainda mais os ensinamentos islâmicos, Hazrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“O Santo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) também proibiu os soldados muçulmanos de infligir qualquer forma de terror ou medo na população geral durante as guerras. Na verdade, todos os não-combatentes e civis deveriam ser tratados com bondade e nenhuma injustiça deveria ser perpetrada contra eles… Durante a batalha, os soldados não deveriam golpear os seus oponentes na cara e deveriam causar-lhes o mínimo de dano e sofrimento possível. Se prisioneiros de guerra fossem capturados, eles não deveriam ser separados dos seus parentes se eles também fossem presos.”
Sua Santidade declarou ainda:
“Todos os esforços deveriam ser feitos para deixar os prisioneiros de guerra confortáveis, a tal ponto que o conforto e necessidades deles tivessem prioridade sobre os dos seus captores. Se um muçulmano fosse culpado de qualquer forma de crueldade ou dureza para com um prisioneiro de guerra, deveriam libertá-lo imediatamente para fazer as pazes.”
Destacando a universalidade destes princípios islâmicos, Sua Santidade disse que se os países não-muçulmanos adotassem estes princípios, então “mesmo que ocorressem guerras, não dariam origem a hostilidades tão profundas que permanecessem enraizadas geração após geração.”
Sua Santidade advertiu que, ao não reconhecer que a paz só pode ser estabelecida se estes princípios de guerra forem postos em prática, “estamos à beira de uma guerra mundial catastrófica que sem dúvida levará a níveis tão elevados de destruição e carnificina que estão muito além da nossa imaginação.”
Sua Santidade citou o Professor Jeffrey Sachs, economista de renome mundial da Universidade de Columbia, que atribuiu a culpa ao “fracasso dos líderes políticos ocidentais em serem francos sobre as causas da escalada dos conflitos globais” por estarem à beira de uma catástrofe nuclear.
O Professor Sachs acusou o Ocidente e a sua narrativa de ostentar a nobreza, enquanto retrata a Rússia e a China como más, de serem “simplórias e extraordinariamente perigosas” e disse: “Nesta fase, a diplomacia, e não a escalada militar, é o verdadeiro caminho para a segurança europeia e global.”
Ao abordar a terrível situação humanitária em Gaza, Sua Santidade referiu-se a uma entrevista recente do senador norte-americano Bernie Sanders, que condenou veementemente as ações do governo israelita, descrevendo-as como “inexplicáveis” e disse que “nós nos Estados Unidos da América, através do nosso apoio financeiro a Israel, somos cúmplices no que está a acontecer.”
O Califa da Comunidade Islâmica Ahmadia afirmou que não estava satisfeito com o facto dos políticos e comentadores estarem agora a chegar às mesmas conclusões sobre as quais ele tinha alertado o mundo há mais de duas décadas. Pelo contrário, ele lamentou que não tivessem sido feitos os esforços necessários para acabar com a desigualdade, a injustiça e a guerra.
Hazrat Mirza Masroor Ahmad apelou à cessação das duas grandes guerras atualmente em curso e disse:
“Certamente, é a minha opinião que deveria haver um cessar-fogo completo entre Israel e o Hamas e também na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. De seguida, em vez de incitar os seus respetivos aliados a continuarem a guerra, todos os membros da comunidade internacional devem dar prioridade à garantia de que os esforços de socorro sejam intensificados para ajudar aqueles que necessitam desesperadamente e devem concentrar-se em alcançar uma solução duradoura e pacífica.”
Alertando sobre como as gerações futuras nos culparão se ficarmos de braços cruzados enquanto são perpetradas estas crueldades, Hazrat Mirza Masroor Ahmad disse:
“Em vez disso, se ficarmos de braços cruzados e deixarmos que estas guerras se agravem ainda mais, perder-se-ão inúmeras vidas inocentes e, certamente, a história julgar-nos-á com desprezo como autores da nossa própria destruição e miséria.”
Hazrat Mirza Masroor Ahmad concluiu e disse:
“Devemos todos unir-nos, deixando de lado os interesses nacionais, políticos e outros interesses pessoais para o bem-estar da humanidade e para garantir que deixemos para trás um mundo próspero para as nossas gerações futuras. É uma necessidade do tempo que concentremos todas as nossas energias e esforços no estabelecimento da verdadeira paz, para que possamos viver num mundo de esperança e prosperidade, em vez de viver num mundo de desigualdade, ódio e derramamento de sangue.”
Antes do discurso de Sua Santidade, vários dignitários dirigiram-se ao público, incluindo os vencedores do Prémio da Comunidade Islâmica Ahmadia para a Promoção da Paz, bem como o Sr. Rafiq Hayat, Presidente Nacional da Comunidade Islâmica Ahmadia do Reino Unido.
Os representantes de vários partidos políticos também apresentaram os seus discursos no Simpósio da Paz.
Dama Siobhain McDonagh Membro do Parlamento do Reino Unido falou e disse:
“A comunidade Ahmadia tem estado na vanguarda do apelo à paz desde o início do conflito. Foi a sua santidade quem exortou todas as potências mundiais a acalmarem-se e a trabalharem no sentido de uma solução pacífica duradoura.”
Jonathan Lord Membro do Parlamento do Reino Unido disse:
“O vosso compromisso (da comunidade) em promover a paz, a justiça e a tolerância em todo o mundo é verdadeiramente louvável… Face a tais incertezas na situação internacional, Vossa Santidade e a vossa comunidade têm sido verdadeiros faróis da paz, lembrando-nos dos valores que devem unir-nos a todos.”
Excelentíssimo Sr. Ed Davey, Líder do partido Liberal Democrata, disse que é necessário um cessar-fogo bilateral em Gaza “para que a matança possa parar, para que a ajuda possa entrar, para que os reféns possam ser libertados, para que possamos iniciar um processo de paz que chegue à solução de dois Estados que poderia ser oferecida. E estou ansioso pelo discurso de Sua Santidade para falar sobre o que está a acontecer e como podemos desempenhar o nosso papel – todos nós – desempenhar o nosso papel.”